Marco temporal acirra tensão entre Senado e STF; decisão só em 2026

Entenda a recente suspensão do julgamento sobre o marco. Novos desdobramentos em torno da demarcação de terras indígenas aparecem – Foto: STF

STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu novamente o julgamento das ações que discutem a constitucionalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas. A interrupção ocorreu após dois dias de sustentações orais de partidos, entidades indígenas e representantes do agronegócio. Sem data definida para a retomada, a análise deve ficar para 2026 e pode ser concluída no plenário virtual, formato que vinha sendo adotado pela Corte antes do pedido das partes para defenderem suas posições presencialmente.

marco temporal estabelece que povos indígenas só teriam direito às terras indígenas ocupadas — ou em disputa judicial — até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. A tese já foi considerada inconstitucional pelo STF em 2023, por 9 votos a 2, mas voltou ao centro das disputas políticas após o Congresso aprovar a Lei 14.701/2023, que restabeleceu a regra. O presidente Lula (PT) vetou trechos essenciais da lei, seguindo o entendimento do Supremo, mas os parlamentares derrubaram o veto em dezembro do mesmo ano.

Desde então, partidos governistas, entidades de defesa dos povos indígenas e grupos ligados ao setor rural recorreram ao Judiciário. De um lado, PL, PP e Republicanos defendem a manutenção da lei; de outro, organizações indígenas e siglas como PSOL pedem que o STF reafirme a inconstitucionalidade da tese. Paralelamente, o Senado aprovou neste mês a PEC 48/23, inserindo o marco temporal no texto constitucional. Para aliados da proposta, isso dificultaria eventuais derrubadas pelo Judiciário; especialistas, porém, entendem que a mudança amplia o conflito institucional e reduz o impacto do acordo de conciliação costurado nos últimos meses.

Esse acordo foi elaborado após o relator, ministro Gilmar Mendes, ter determinado a criação de uma mesa de conciliação em 2024. Ao longo de 23 audiências, União, Congresso, organizações indígenas e representantes do campo construíram um documento de sugestões para solucionar pontos sensíveis da disputa. Caso o STF homologue o acordo, ele será enviado ao Legislativo como recomendação de ajustes legais — sem obrigatoriedade de implementação.

Julgamento do Marco Temporal e Sustentações Orais

As sessões desta semana marcaram o encerramento das sustentações orais. Representantes do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), de partidos políticos e de entidades ruralistas se revezaram para defender suas posições. A advogada Paloma Gomes, do Cimi, afirmou que a Lei 14.701 “mantém práticas colonialistas” e destacou que o país registrou 211 assassinatos de indígenas apenas em 2024.

Próximos Passos e Expectativas para o Julgamento

O julgamento ocorrerá somente após o recesso do Judiciário, que começa em 20 de dezembro. A Corte retomará suas atividades apenas em fevereiro de 2026. O relator Gilmar Mendes será o primeiro a votar — e já manifestou posição contrária ao marco temporal no julgamento de 2023. A expectativa é de que, seguindo a prática adotada desde a gestão de Luís Roberto Barroso na presidência do STF, os ministros reflitam sobre as manifestações apresentadas antes de proferirem seus votos.

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