Lúcio de Marchi recorda desafio do enfrentamento da pandemia

TOLEDO – “O enfrentamento da pandemia de Covid-19 foi experiência inesperada e assustadora e aprendizado muito grande, porque não se conhecia o inimigo a ser combatido e não se sabia quais os recursos a serem utilizados para proteger a população. Há mais de 100 anos o mundo não sofria tragédia semelhante e por isso tivemos de transformar o susto e o temor em ações práticas e imediatas para preservar vidas humanas e reduzir o sofrimento de enfermos e familiares”, recorda o ex-prefeito Lúcio de Marchi.

         Segundo ele, em 2019, quando começou a se falar no coronavírus na China, não se imaginava que poderia se repetir o drama da Febre Espanhola, que atingiu o mundo em 1918 e matou 50 milhões de pessoas. Somente meses depois, quando os brasileiros começaram a receber vídeos de câmaras frias cheias de corpos de vítimas da Covid-19 na Europa, foi que autoridades, profissionais da saúde a população começaram a dimensionar a gravidade da pandemia e a necessidade de adoção de medidas urgentes, para salvar vidas humanas.

         “Em Toledo e na área da 20ª Regional de Saúde, quando começaram as primeiras contaminações, com o Hospital Regional em reformas, faltavam leitos hospitalares de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e de enfermaria, não havia medicamentos para o tratamento da doença e o recebimento de vacinas dependia da compra pelo Governo Federal, repasse aos Estados e transferência para os municípios, para iniciar a imunização de idosos e pessoas com comorbidades, o que nos deixava quase enlouquecidos, pois tudo que poderia e deveria ser feito estava fora do nosso alcance”, acrescenta Lúcio.

         Conforme o ex-prefeito, até então só se falava numa eventual epidemia, como da “gripe suína”, até que a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou a existência da pandemia e começou a orientar ações de prevenção e enfrentamento da enfermidade. “Para a nossa e a felicidade da população de Toledo, tivemos a iniciativa de logo criar o Centro de Operações Emergenciais de Toledo (Coe), sob a coordenação da então secretária municipal de saúde, Denise Leal, e do médico dr. Fernando Pedrotti, que nos orientavam sobre providências a serem tomadas para prevenir a contaminação da população e evitar a perda de preciosas vidas humanas”, acrescenta.

           DISTANCIAMENTO SOCIAL – Dessa forma, segundo ele, foram definidos protocolos iniciais para impedir o aumento da circulação viral, com publicação de portarias determinando o distanciamento social e restringindo a aglomeração e circulação de pessoas e reuniões em espaços públicos e estabelecimentos comerciais e de lazer, entre outras medidas, a exemplo dos boletins epidemiológicos, para orientação da população sobre o uso de máscaras, quando existiam para venda, e demais prevenções da contaminação, em muitos casos enfrentando resistências e críticas de empresários, lideranças políticas e pessoas desinformadas, que não aceitavam ou consideravam exageradas as ações do poder público.

         “Para o bem de todos nós e da população, graças ao apoio e orientação do Coe, partimos para atitudes concretas e imediatas, como a ampliação de instalações do Hospital Bom Jesus, por funcionários da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural (Emdur), e implantação do Hospital de Campanha, em dependências do Instituto João Paulo II, graças à colaboração da Diocese de Toledo, utilizando equipamentos do Hospital Regional, ao mesmo tempo em que se esperava pelas vacinas anunciadas e se fechava escolas, repartições públicas, espaços culturais, restaurantes populares e até postos de saúde, para realocar funcionários e equipes médicas para unidades voltadas ao atendimento de pacientes da Covid-19”, explica Lúcio.

         “Para o tratamento de contaminados destinamos o Mini-Hospital e a Central de Especialidades da Vila Pioneiro, ambas ativadas por nossa gestão, além dos leitos de UTI e enfermaria ampliados no Hospital Bom Jesus, bem como enviar enfermos para hospitais da região. Ao mesmo tempo, continuamos a orientar e apoiar a população, quando não havia medicação recomendada para o tratamento da doença e só se falava no tal de ‘kit Covid’. Para isso, contamos com a dedicação e colaboração de equipes de funcionários e profissionais de saúde, inclusive de unidades fechadas por falta de colaboradores, pois muitos deles também se contaminaram”, ressalta Lúcio.           

“O pior de tudo é que combatíamos um inimigo desconhecido e invisível, sem saber que ‘armas’ utilizar nessa tarefa, ao mesmo tempo em que o Ministério Público e o Poder Judiciário do Estado tentavam nos responsabilizar pela falta de leitos de UTI, acenando com a possibilidade de nos processar pelas eventuais mortes de pacientes por falta de atendimento hospitalar. A situação era tão grave que chegamos a ouvir a recomendação para a implantação de crematório em Toledo, pois poderia faltar espaço nos cemitérios públicos para o sepultamento das vítimas da pandemia”, afirma.

         RISCO DE REJEIÇÃO DE CONTAS – Para completar a situação já trágica, conforme Lúcio, com restrições ao funcionamento do comércio e setor de prestação de serviços e redução da atividade econômica, ao mesmo tempo em que aumentavam as despesas com a saúde pública, a arrecadação começou a cair e mesmo cortando novos investimentos, havia o risco do então prefeito ter as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado e Câmara Municipal, sendo responsabilizado pelas eventuais perdas de recursos públicos, através de processos no Poder Judiciário.

         “Para a nossa felicidade tivemos a iniciativa de criar Comissão de Controle de Gastos Internos, coordenada pelo então secretário municipal da Fazenda, Balney Rotta, com participação de outros secretários e servidores, mesmo com alguns dos quais trabalhando em casa, que nos permitiu a administração correta das despesas. Além disso, a arrecadação municipal caiu 10 milhões de reais em abril de 2020 e a previsão era de déficit de 100 milhões de reais naquele ano. Felizmente, graças ao desempenho da construção civil e da cadeia produtiva do agronegócio, as receitas voltaram a crescer e nos garantiram superávit ao final do ano. Quanto entregamos o governo municipal no início de 2021 deixamos 160 milhões de reais no caixa, para investimentos e gastos da nova gestão, algo inédito na história da gestão pública de Toledo”, ressalta Lúcio.

            “Graças ao apoio e contribuição de secretários e servidores municipais, profissionais de saúde, de instituições como a Associação Comercial e Empresarial de Toledo (ACIT) e da maioria da população, enfrentamos com coragem, competência e determinação o inimigo desconhecido e hoje podemos nos dizer aliviados com as consequências e número de vítimas da pandemia entre a comunidade de Toledo”, recorda.

“Em 2020, apesar de tudo, foram apenas cerca de 70 casos fatais em Toledo, enquanto até meados de fevereiro de 2022 já haviam sido mais de 480 óbitos e 41 mil de casos confirmados entre toledanos, incluindo a perda de pessoas próximas e lideranças políticas da cidade e região, como o saudoso então deputado federal, ex-deputado estadual e ex-prefeito José Carlos Schiavinato, um de seus filhos e a esposa, esta por outras enfermidades, mas a tragédia poderia ter sido ainda maior, se não tivéssemos enfrentado a pandemia com a determinação que Deus nos concedeu”, afirma Lúcio.

         Prova do acerto de suas decisões, segundo ele, foram a superação das limitações impostas pela pandemia aos setores produtivos e aos trabalhadores urbanos e rurais de Toledo, além do sofrimento das famílias das vítimas da enfermidade, somadas às medidas restritivas, como Lei de Emergência 173, do Governo Federal, que proibia as contratações de servidores e novos investimentos públicos. Com essas ações, somadas aos avanços no serviço de saúde pública do município, Toledo conquistou a condição de cidade com o melhor acesso aos serviços da saúde do País e foi selecionada para estudo da Pfizer, com vacinação antecipada de todos os jovens de 12 a 17 anos. “Foi uma luta incrível e uma experiência inesquecível, mas graças a Deus não nos deixamos dominar pelo medo e pela desinformação”, finaliza Lúcio de Marchi.

EX-SECRETÁRIA DENISE LIEL -Sobre o combate à pandemia em Toledo, vale a pena também registrar manifestação da então secretária municipal de Saúde, Denise Liel: “Agradecemos pelo apoio e compreensão, pois sabemos como foi difícil reorganizar todo o sistema de saúde, quando do início da pandemia, ninguém neste País sabia como ela se comportaria. Todos sabemos das nossas fragilidades, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) deu a resposta. E, em Toledo, junto com todos os valorosos trabalhadores da saúde, reorganizamos a rede de assistência. Recebemos muitas críticas, inclusive por ter fechado Unidades de Saúde, mas hoje podemos dizer que não foi em vão, pois garantimos o acesso aos serviços de saúde. Reconhecemos que o setor mais afetado foi a Central de Especialidades, pois o atendimento foi suspenso por longo período. Como servidora pública por 37 anos, agora aposentada, afirmamos que o mérito foi dos mais de 900 servidores municipais da saúde, que não se abstiveram de opinar, de repensar, de reorganizar, de trabalhar e de cobrar ações. Somos muito gratas, pois sabemos que essa conquista foi fruto da história”.

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